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Planejamento é a base do negócio para pequenas empresas
Estudo revela que ainda é grande o número de empresas no Brasil que fecham as portas antes mesmo de completar dois anos de atividade, e o problema geralmente é de gestão
Um estudo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), divulgado no segundo semestre de 2018, mostrou que de cada quatro empresas abertas no Brasil uma fecha antes de completar dois anos de existência no mercado. A conquista do microcrédito e a aplicação correta dos recursos, associado ao bom planejamento são estratégias não somente para garantir a manutenção, mas também do crescimento do negócio.
O coordenador de MBA em Gestão Financeira da Fundação Getúlio Vargas, Ricardo Teixeira, lembra que os erros nos investimentos dos recursos dos empréstimos bancários contribuem diretamente para o insucesso dos empreendimentos na fase inicial das empresas. “A falta de planejamento (incluindo a ausência de um bom orçamento) geralmente é o fator determinante. A correta aplicação dos recursos, provavelmente, viria logo após”, diz Teixeira, ao falar dos motivos da mortalidade das empresas.
O especialista da FGV salienta que, para evitar quaisquer riscos, o empreendedor deve “seguir o planejamento, sempre dentro do orçamento”, com a preocupação de corrigir imediatamente qualquer desvios na trajetória traçada.
O analista do Sebrae Minas José Márcio Martins lembra que o fechamento das empresas está ligado a diversos fatores e compara a mortalidade das empresas a acidentes aéreos. “A análise da sobrevivência/mortalidade de empresas se assemelha à análise dos acidentes aéreos. Nesse campo, também não é possível atribuir a um único fator a causa dos acidentes, mas sim, a uma combinação de fatores”, diz ele.
PESQUISA
“No o caso de sobrevivência/mortalidade das empresas, em pesquisa realizada pelo Sebrae em 2016, verificamos que, entre as empresas que fecharam, há uma proporção maior de empresários que estavam desempregados antes de abrir o negócio; que tinham pouca experiência no ramo, que abriram o negócio por necessidade e/ou exigência de cliente/fornecedor; que tiveram menos tempo para planejar o negócio; que não conseguiram negociar com fornecedores; que não aperfeiçoaram seus produtos/serviços; não investiam na capacitação da mão de obra; inovavam menos; não faziam o acompanhamento rigoroso de receitas e despesas; não diferenciavam seus produtos; não investiam na sua própria capacitação em gestão empresarial e também porque não conseguiram financiamento junto aos bancos”, revela o especialista.
Ainda sobre o assunto, Martins relata: “por outro lado, entre as empresas que continuavam em atividade, havia uma menor proporção de desempregados e uma maior proporção de empresários com maior experiência no ramo, que abriram o negócio porque identificaram uma oportunidade e/ou que desejavam ter o próprio negócio; que tiveram mais tempo para planejar; conseguiram negociar com fornecedores e obter empréstimos em bancos; aperfeiçoavam seus produtos/serviços; investiam na capacitação da mão de obra; inovavam mais; faziam o acompanhamento rigoroso de receitas e despesas; diferenciavam seus produtos em relação ao mercado e que investiam na sua própria capacitação em gestão empresarial”.
O presidente do Banco do Nordeste, Romildo Carneiro Rolim, disse que a instituição tem muitas evidências de que o seu sistema de microcrédito, que já alcançou cerca de 2 milhões de microempreendores, contribui diretamente para o aumento do grau de sobrevivência dos negócios. “Mas esse efeito ocorre no longo prazo, sendo mais observado após 10 anos de atendimento. Além da melhoria nas condições gerais do empreendimento, nossas avaliações mostram aumento na renda familiar e redução significativa da incidência da pobreza, resultando em impacto positivo do microcrédito”, assegura.
Rolim informou que, com relação à sustentabilidade do negócio, os dois principais impactos são o aumento real de 60% no faturamento e incremento de 14% nos empregos gerados, beneficiando, principalmente, pessoas da própria família. Ele destaca ainda que o sistema de educação financeira que a instituição oferece aos tomadores dos empréstimos tem um papel relevante nesses resultados, tendo em vista que boa parte dos problemas mais relatados nas pesquisas sobre mortalidade de pequenas empresas diz respeito à gestão financeira.
EXEMPLO
Eronides Ferreira de Oliveira Araújo, a Nidinha, moradora de Salinas, no Norte de Minas, é exemplo de empreendedora que recorreu ao microcrédito e aprendeu como gerenciar os recursos, expandindo o seu negócio. “Iniciei no microcrédito há 18 anos. Peguei R$ 3 mil para comprar duas máquinas de costura para iniciar meu negócio”, conta a mulher, que começou com uma pequena loja de tecidos e de enxovais.
Ela conta que concluiu o ensino médio e não entendia nada de finanças. Depois de obter o financiamento com viés social, fez cursos sobre gestão financeira, patrocinado pela instituição responsável pelo empréstimo, o Banco do Nordeste. O seu negócio prosperou. Hoje, com a ajuda do marido, Eronides é dona de duas lojas de tecidos, cama, mesa e banho em Salinas e em Araçuaí (Vale do Jequitinhoha), e emprega 15 pessoas. Ela também expande o negócio, usando as redes sociais para incrementar as vendas.
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