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Crédito deve voltar de maneira lenta

Fernando Travaglini O estímulo dado pelo Banco Central (BC) à compra de carteiras de crédito dos bancos médios, na sexta-feira, pode aliviar o empoçamento de liquidez entre os bancos (quando o dinheiro fica concentrado na mão dos grandes). O crédito para as empresas, no entanto, segmento mais afetado pela crise, deve voltar de forma lenta. Com o agravamento da crise americana nas últimas três semanas, os bancos brasileiros se retraíram, tentando manter a liquidez. Isso provocou a restrição dos empréstimos, com interrupção brusca das concessões para pessoas jurídicas, e para os bancos de menor porte. Assim, boa parte dos bancos vem pedindo para as empresas quitarem suas dívidas de curto prazo, com poucas renovações das modalidades de capital de giro, vital para o andamento dos negócios. Nos casos de renegociação, as taxas cobradas estão bastante acima do normal. "Há desconfiança em relação ao cliente. Há recursos, mas ninguém quer assumir os riscos", disse o diretor de um banco especializado no "middle market". Segundo Renato Oliva, presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), o agravamento da crise e o aperto mundial da liquidez levaram os bancos brasileiros a uma corrida para elevar a própria liquidez. "Isso significa menos recursos para o crédito, principalmente para empresas". Para corrigir essa distorção, a medida do BC pode ser um bom alento. "Já há noticias de que os bancos grandes têm procurado os pequenos para compra de carteira. Se mesmo assim não for suficiente, o BC tem mais munição e eu aposto que vai nos apresentar novas soluções". "Vai ser como pinto no lixo", disse o diretor de um banco bastante ativo na compra de carteiras de bancos médios, prevendo uma onda frenética de negócios, especialmente depois que o BC corrigiu a circular, passando a permitir as operações com coobrigação. Ronaldo Lellis, gerente de crédito do Banco Prosper afirma que a percepção de risco dos bancos aumentou muito e mesmo com a medida a retomada de crédito "se dará de uma forma muito paulatina e não da noite para o dia. Os bancos médios estão muito cautelosos e ainda não se percebe um movimento de retorno". Ricardo Mello, do Banco Máxima, afirma que a recuperação será lenta. "Essa segunda-feita vai ser mais concreta, vai ser melhor do que a segunda passada, não tenha dúvida, mas não estou vendo de forma otimista". Flavio Stanger, sócio-diretor do Banco Modal, afirma que a nova circular do BC pode acalmar" os bancos. Segundo disse, "boa parte dos bancos pequenos está com problemas de liquidez, com dificuldade de quitar os vencimentos externo e o CDB longo está muito caro". A partir de hoje já é esperado um movimento dos pequenos em busca de cessão. Já o preço vai depender das condições do negócio (prazo, qualidade, modalidade), já que este mercado também estava paralisado. As últimas operações feitas dias antes da crise giravam em torno de 150% do CDI. Os FIDC também já pagam de 112% a 116% do CDI. Stanger avalia que o custo das linhas externas pode ser um piso de referência. "Antes do agravamento da crise, uma captação longa, de dois a três anos, incluindo o custo do swap, variava entre 125% e 130% do CDI. Não deve sair abaixo disso". Em 2007, antes da crise, o preço era bem inferior. Algumas cessões de créditos consignados, com baixo risco e coobrigação estavam na casa dos 110% do CDI. Outras pagavam dois pontos acima da curva futura do CDI longo. Sem crédito na praça, as empresas estão sem capital para cumprir a exigência dos bancos de quitar os empréstimos. Isso pode levar a um aumento dos atrasos já neste ano, afirma, em relatório, a equipe de análise da Bradesco Corretora. "O crédito (clean) para pequenas e médias empresas se tornou extremamente raro e alguns bancos exigem excessivas garantias (recebíveis) antes de oferecer capital de giro. Além disso, as taxas estão em alta, enquanto os prazos continuam encolhendo". Segundo o relatório, a percepção é que se a liquidez se mantiver apertada por muito tempo, poderá haver um "forte aumento da inadimplência no fim do ano e especialmente no primeiro trimestre de 2009, período que sazonalmente apresenta taxas altas no segmento de pequenas e médias". Esse efeito poderia, inclusive, afetar os grandes bancos. A corretora ressalva, no entanto, que a economia brasileira poderá se manter com perspectivas positivas, prevenindo deterioração maior no crédito. No caso dos empréstimos para as pessoas físicas, também houve recuo, mas de forma menos acentuada, com desaceleração mais forte em nichos específicos, como veículos populares e consignado. O grande termômetro será como os varejistas vão se posicionar no Dia das Crianças, afirma o assessor econômico da Serasa, Carlos Henrique de Almeida. "Vamos avaliar como o comércio fará promoções com o consumidor endividado".
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